Após acidente, trabalhadores denunciam irregularidades em obra da ETE

Após a morte do servente de pedreiro Francisco Machado Gregório, de 34 anos, que foi prensado por um tubo de concreto, no canteiro de obras da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Ponte do Caixão, em Piracicaba, colegas da vítima denunciaram ao EP Piracicaba irregularidades no local. O Ministério do Trabalho e Emprego informou que nesta quarta-feira (14) haverá fiscalização nas obras que são realizadas por um consórcio contratado pela Prefeitura.

A reportagem teve acesso ao alojamento onde pelo menos 30 homens, vindos em sua maioria da região nordeste do País, vivem em meio a ratos e acomodados em camas improvisadas, muitas delas construídas pelos próprios trabalhadores com madeira da obra, que corre a poucos metros do abrigo dos trabalhadores.

Veja galeria com imagens do alojamento e do canteiro de obras da ETE

“A gente gosta de bolacha recheada, mas não tem como ter aqui porque os ratos comem tudo”, conta o carpinteiro pernambucano Juvenal Nunes de Campos, que conta os minutos para encerrar seu período de experiência na empresa e partir de volta para a terra natal.

O cheiro forte dos banheiros mal-acabados se alastra pelo corredor e invade um dos quartos, onde ferramentas de trabalho, capacetes e outros utensílios de segurança se misturam aos objetos pessoais dos operários.

Um segundo trabalhador, que não quis se identificar, mostra os sapatos de “proteção” com a sola gasta, minutos depois de um terceiro trabalhador contar que só este mês foi parar no posto médico três vezes com os pés espetados por pregos, que, sem cuidado da empreiteira, ficam espalhados pelo canteiro.

O presidente do Sindicato da Construção Civil de Piracicaba, Milton Costa, informou que a obra já havia sido denunciada e notificada sobre problemas de segurança.

“Nós já estivemos aqui, ja denunciamos estas questões de segurança, mas parece que não tem boa vontade de as coisas funcionarem legal. Vai ver esse alojamento. Eles falam que está tudo bem, mas não está nada bem e nós não conseguimos reverter isso. Continua o descaso com nossos profissionais”, desabafou minutos após saber da morte de Gregório.

Outro lado

O gerente do consórcio CON Engenharia, Maickel Machado, responsável pela obra da Prefeitura negou as acusações e disse que todos os trabalhadores trabalhavam dentro das normas de segurança exigidas. Ele admitiu que o sindicato já havia apontado em outra ocasião pontos a serem modificados no local, mas garantiu que estes pontos não tem ligação com o acidente ocorrido na tarde desta terça.

A Prefeitura, em nota divulgada à imprensa após o acidente, informou apenas que a responsabilidade pela segurança dos trabalhadores é da empresa contratada. Durante a audiência pública promovida no mesmo dia na Câmara de Vereadoers e que contou com a presença, inclusive do procurador geral do município, Sérgio Bissoli, entretanto, representantes do Ministério Público do Trabalho informaram que a empresa que contrata a terceirizada é solidariamente responsável pelo que ocorre no canteiro de obras.

Projeto de Lei
O procurador do município anunciou nesta terça (13), durante audiência pública sobre segurança do trabalho na construção civil, um projeto de lei elaborado pela Prefeitura em parceria com o Ministério Público do Trabalho. Entre os itens do projeto, que foi explanado minutos antes da morte de Gregório na obra da ETE, existe um que obriga a administração a exigir das empresas vencedoras de processo licitatório documentação com comprovação de gastos com itens de segurança para os trabalhadores.

Segundo Bissoli, pelo projeto, a empresa que for notificada por irregularidades nesse sentido, também poderá ser punida, inclusive, com a perda dos direitos de prestar o serviço. A lei será protocolada na Câmara dos Vereadores nos próximos dias e deverá ser votada nas duas próximas semanas.

Sobre o caso específico da obra de tratamento de esgoto, Bissoli afirmou que é preciso apurar as circunstâncias para definir o que será feito.

Fonte: EP Piracicaba

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