Piracicaba tem 23 registros de trabalho escravo ou sub-humano em 2011

As correntes não são mais tão escancaradas como no período da colônia e do império. Em pleno século 21, entretanto, em período de intenso desenvolvimento econômico, Piracicaba teve, até setembro deste ano, 20 registros de trabalhadores que, vindos em sua maioria de estados do Norte e Nordeste, viviam em condições subumanas na cidade . Além destes, houve três casos de trabalho escravo. A informação é do técnico em segurança do trabalho do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), Marcos Hister, convidado do quadro Entrevista da Semana deste domingo (4).

As imagens inéditas cedidas pelo Cerest ao EP Piracicaba mostram alguns dos flagrantes de alojamentos onde trabalhadores viviam amontoados e, muitas vezes, obrigados a fazer suas necessidades fisiológicas em latas, dormir em colchonetes no chão e cozinhar à moda primitiva utilizando espiriteira, com o auxílio de álcool e uma lata de alumínio; tudo isso em um espaço apertado, sem ventilação e, não raro, no escuro.

Neoescravidão
Em um dos casos apontados pelo Cerest e registrado nesse 2º semestre de 2011, operários de uma lavoura de laranja chegavam a pagar ao patrão para trabalhar. Sem condições financeiras de voltarem para sua terra, os operários se submetiam a isso para não passar fome, conforme conta o fiscal, que lembra que o empregador cobrava R$ 1,2 mil de aluguel dos trabalhadores, que viviam em um alojamento improvisado.

Setor de risco

A falta de recursos, lembra Hister, não se limita às instalações cedidas aos empregados. A falta de equipamentos de segurança e infraestrutura adequados fizeram com que até setembro de 2011 fossem registrados 6.617 acidentes de trabalho em Piracicaba, 11 deles com morte e 116 com consequências graves, como cegueira e amputação.

O setor campeão neste tipo de ocorrência, segundo nosso entrevistado, ainda é a metalurgia, mas, desde 2009, quando houve o boom econômico, a construção civil passou a assumir o papel de potencial vilã, quando herdou das lavouras canavieiras o modelo de relação entre trabalhador e trabalho. “Em decorrência da alta produção, a saúde do trabalhador é posta de lado”, diz. Foram 760 registros de acidentes em construções da cidade.

Terceirização
Hister lembra, ainda, da grande dificuldade de se encontrar, em tempos de terceirização, quem, de fato, é o dono da casa grande que deve ser responsabilizado por estes problemas. “A empresa que terceirizou o serviço também deve responder pelo que acontece no espaço dele. Não apenas a terceirizada”, defende.

Denúncia
Antes de autuar os empregadores, entretanto, o fiscal lembra que é essencial a participação do trabalhador denunciando estes casos de indiferença de empregadores aos direitos garantidos por lei ao trabalhador. “Se continuar como está, sim [a perspectiva é que a situação piore]. Não podemos confundir o que é comum do que é normal. O trabalhador não pode aceitar mais estas situações porque elas têm sido frequentes”.

Fonte: EP Piracicaba

 

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